Por Adelson Vidal Alves
Recentemente escrevi artigo defendendo uma nova ordem mundial orientada pelo que chamei de “Novo imperialismo”. Basicamente, um ordenamento global movido por um núcleo de poder guardião de valores civilizatórios e capaz de resguardar a vivência planetária evoluindo para uma configuração democrática aprofundada das relações internacionais. Os agentes desta nova ordem só poderiam vir do Ocidente, que se materializa na União Europeia e nos EUA.
Ao contrário das críticas que recebi, não advoguei uma dominação colonialista das potências europeias e dos EUA sobre o mundo, pelo menos não nos moldes do imperialismo que passou, seja do século XVI ou XIX. As condições históricas desse imperialismo passaram, assim como as demandas eram outras. Hoje, o que precisamos é de reconhecimento da superioridade de uma determinada cultura como sendo universal, e que essa cultura tem o dever moral de expandir e garantir a assimilação pacífica e dialética desta cultura como parte de um ideal organizacional mundial.
Esse Novo imperialismo é democratizante e solidário, pois não pretende concentrar o conforto e o progresso nas mãos de poucos, mas de compartilhar descobertas civilizatórias que melhor garantiram nossas ambições de um mundo mais pacífico, ordeiro e rico. A ação dos novos agentes imperiais devem se dar basicamente pela persuasão, com uso das armas restrito apenas na garantia de que os povos poderão decidir soberanamente pelo seu destino. A exportação de valores tidos como o sustentáculo do nosso futuro só podem triunfar pela livre aceitação dos povos em soberana e consensual decisão. Aqui entra o que chamo de “Adesão voluntária”.
Na história, os povos que aceitaram a condição de subdesenvolvido e acolheram valores externos como motor de desenvolvimento, puderam ver evolução. Os que rejeitaram, mantiveram-se em situação de atraso. A África subsaariana, parte da Ásia e da América Latina orgulham-se de sua vocação indigenista ou tribal, e os multiculturalistas aplaudem tal orgulho como patriotismo, como se não houvesse hierarquia entre as culturas, como se as instituições ocidentais estivessem no mesmo patamar civilizatório que as organizações de poder baseadas no clã e na superstição. A Adesão voluntária é assim fundamento o Novo imperialismo, não se aceita a imposição de nada, somente pelo livre consentimento.
Mas e se a maioria das populações optarem por rejeitar o Ocidente? Assim pensava Samuel Huntington, para quem os não-ocidentais rejeitam a universalidade da cultura ocidental. De fato, o ressentimento da colonização e alguns apegos naturais de vários povos funcionam como barreira na aceitação de valores estrangeiros, visto sempre, com razão, como violência.
Mas os tempos atuais abrem grandes possibilidades para que a informação circule melhor, e o avanço da cultura escrita, da alfabetização e mesmo pequenos processos de urbanização formaram algum espírito receptivo de vários povos para o acolhimento integral do sistema de valores ocidental. Devo ressaltar que pequenos avanços em várias civilizações só foram possíveis somente porque aplicativos do Ocidente (Ferguson) lá chegaram em algum grau.
A Adesão voluntária é resultado da percepção dos povos em relação ás vantagens do Ocidente, da recepção positiva de paradigmas universais obtida pela via racional, do uso da razão como o instrumento de julgamento humano acessível igualmente a todos os grupos sociais, políticos e culturais.
A Adesão voluntária não significa ausência total de guerras no processo de expansão do novo imperialismo. Há elementos primitivos presentes em várias elites nacionais, étnicas e tribais, que além de expressarem um patológico atraso cultural, lucram com o sofrimento de seus povos. Alianças militares civilizadas articuladas pelo Ocidente, principalmente a OTAN, servirão como elemento humanitário de remoção de mecanismos de opressão e coerção de grupos dominantes. A guerra aqui é necessária, não por conta de conquistas de anexação de territórios, mas como elemento temporário de tutela, a fim de que as populações possam decidir seus destinos de forma livre.
Óbvio que uma aceitação absoluta nunca é possível. A nova ordem global do Novo imperialismo conviverá com opositores e até mesmo resistências, algumas legítimas, outras moduladas pela ação da violência e do terrorismo, elementos só vencidos pelo uso racional da força. No mais, deve-se a confiança na razão universal da nossa espécie a confiança de que, expostos às vantagens da democracia, dos direitos humanos, da liberdade individual e do colonialismo os povos tendem a receber tais valores como seus, parte do patrimônio da humanidade.

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